Conclave
Após o impacto visceral de Nada de Novo no Front, o diretor Edward Berger troca as trincheiras enlameadas da Primeira Guerra Mundial pelos corredores silenciosos e opressores do Vaticano. O resultado é Conclave, um thriller psicológico e político de primeira linha, onde as batalhas são travadas em sussurros, alianças secretas e crises de fé.
Baseado no romance de Robert Harris, o filme começa com a morte súbita do Papa. Os cardeais do mundo todo são convocados a Roma para o ritual sagrado e secreto que elegerá seu sucessor. O processo é supervisionado pelo Cardeal Lomeli (Ralph Fiennes), o Decano do Colégio Cardinalício, um homem cuja própria fé parece estar em crise.
Longe de ser um retrato idealizado, o filme mergulha na política pura. Temos os principais candidatos: o americano liberal (John Lithgow), o conservador italiano (Stanley Tucci) e um candidato que representa a ala mais radical da igreja. No entanto, a chegada inesperada de um cardeal desconhecido, cuja existência foi mantida em segredo pelo falecido Papa, desestabiliza todo o processo e traz à tona segredos que podem abalar a Igreja.
Edward Berger filma os espaços suntuosos da Capela Sistina com uma tensão claustrofóbica. A grandeza do local contrasta com a mesquinhez das negociações de poder que ocorrem ali dentro. É um filme sobre homens falhos encarregados de uma tarefa divina, e a pressão é palpável em cada olhar trocado.
Contudo, Conclave pertence inteiramente a Ralph Fiennes. Seu Cardeal Lomeli é o centro moral e o pilar de um filme que desmoronaria sem ele. Fiennes entrega uma performance de contenção magistral; ele carrega o peso do mundo, a dúvida espiritual e a responsabilidade da instituição em seus ombros cansados. É uma atuação de silêncios, de gestos mínimos e de uma inteligência profunda. Em minha opinião, é o tipo de trabalho que define uma carreira e que merecia levar a estatueta de Melhor Ator para casa.
Em suma, Conclave é um suspense adulto, inteligente e incrivelmente tenso, que funciona tanto como um mistério quanto como uma reflexão sobre a dissonância entre a fé e a instituição que diz representá-la.
Conclave, 2024. Classificação: 16 anos. Dirigido por Edward Berger, com Ralph Fiennes, Stanley Tucci, John Lithgow e Isabella Rossellini.

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