A Substância





Nota 9/10

Em meio a um cinema que muitas vezes recicla ideias, A Substância surge como uma lufada de ar fresco, brutal e absolutamente original. A diretora Coralie Fargeat, conhecida por seu trabalho visceral em Revenge, eleva o terror corporal a um novo patamar, explorando temas como a autoimagem, o machismo e a pressão estética de forma incômoda e genial. O filme é um dos melhores de 2024 e não tem medo de ser grotesco e explora a fundo a dualidade do "eu" e a busca incessante pela perfeição.

A trama, que se passa em um ambiente distópico, conhecemos Elisabeth Sparkle (Demi Moore), uma apresentadora de TV com anos de experiência que, ao ser demitida e substituída por uma mulher mais jovem, se sente invisível e descartável. Em sua busca desesperada por relevância, ela descobre "A Substância", um soro que promete criar uma versão melhor de si mesma, mais jovem, confiante e linda. O problema é que, para uma surgir, a outra precisa se submeter a um período de hibernação. Assim, nasce Sue (Margaret Qualley), sua versão idealizada. Mas a convivência entre as duas logo se torna um pesadelo, com Sue se tornando cada vez mais dominante e Elisabeth se deteriorando física e mentalmente. A beleza e o horror se misturam, e a narrativa nos leva a questionar até que ponto estamos dispostos a nos destruir para nos encaixar em padrões inatingíveis.

O que eleva A Substância a uma obra-prima é a forma como Coralie Fargeat nos força a confrontar a feiúra que se esconde por trás da beleza. Com efeitos práticos impecáveis e uma maquiagem perturbadora, o filme choca e fascina ao mesmo tempo. A atuação de Demi Moore é um show à parte, entregando uma performance crua e corajosa. Ela encarna a fragilidade e ambição de Elisabeth com uma entrega que há tempos não víamos. Ainda sobre Moore, não ter lhe conferido o Oscar por sua performance é algo imoral. Com todo o respeito a atuação de Mikey Madison no raso Anora, inexplicavelmente também ganhador do Oscar de Melhor Filme, mas entregar o Oscar a Mikey e não a Demi Moore ou Fernanda Torres parece mais uma resposta de Hollywood a crítica trazida por A Substância: a indústria é machista e doentia e valoriza, sim, os corpos jovens substituindo-os por artistas mais velhas e que já demonstram todo o seu talento e competência há muito mais tempo.  

A Substância não é um filme fácil de assistir. Ele é nojento, violento e dolorosamente real em sua crítica social. Mas é exatamente por isso que ele se destaca. É um filme que fica com você, que te faz pensar sobre suas próprias inseguranças e a obsessão da sociedade pela juventude e pela perfeição. Em resumo, A Substância é um terror corporal afiado e uma das experiências cinematográficas mais impactantes e relevantes dos últimos anos.

The Substance, 2024. Classificação: 18 anos. Dirigido por Coralie Fargeat, com Demi Moore, Margaret Qualley, Dennis Quaid e Gore Abrams.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os Outros

Pinóquio por Guillermo del Toro

Verdade e Justiça